Setores têm expectativas diferentes sobre 2014
- Ody Keller Advogados
- 11 de abr. de 2014
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de jun. de 2023
O ano começou com pesos diferentes e ânimos divergentes no setor empresarial gaúcho. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, divulgado oficialmente em 12/03, pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), carimbou uma expectativa em alta no Interior, ativada pelo ritmo do setor primário, com uma nova supersafra. Em Porto Alegre, após janeiro e fevereiro de greves e menor número de dias úteis, a atenção se volta ao fechamento do primeiro semestre e embalo da Copa do Mundo. Dirigentes de comércio que atuam em eletrodomésticos e no setor financeiro apostam em melhora da economia ao longo do ano.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Gustavo Schifino, lembrou no evento Marcas de Quem Decide, do Jornal do Comércio, no Centro de Eventos do Plaza São Rafael, realizado em 11/03, que janeiro somou retomada de protestos, fevereiro foi marcado por 12 dias de greve dos ônibus e março começou com Carnaval. “Isso deve fazer com que o primeiro trimestre feche com vendas abaixo das de 2013, 2% a 3% menores, mas começa a mudar o ritmo agora”, sinalizou Schifino, que espera recuperação nos demais meses até junho. A Copa do Mundo deve movimentar mais recursos, que poderão ajudar na recuperação e no crescimento até o fim do ano, assinala o presidente da CDL-POA.
Nos municípios do Interior, o ambiente do ano começou mais positivo, atestou o presidente da Federação das CDLs (FCDL-RS), Vitor Koch. “A expectativa é muito boa devido aos indicadores econômicos. O ânimo está acentuado pelo efeito do agronegócio para o PIB do Estado”, cita Koch. O dado, divulgado pela FEE, confirmou o índice antecipado pelo govenador Tarso Genro, de avanço entre 6,6% e 6,8%, no ano passado, frente a 2012. “A proximidade da Copa também gera negócios no Interior”, cita o dirigente estadual. A expectativa é de crescimento de 6,5% a 7%, real e em receita de faturamento em 2014.
“A Copa estimula muitos serviços e alimentação e o inverno deve gerar vendas”, elencou o presidente da FCDL-RS, garantindo que não há preocupação com o nível de endividamento. O presidente da Fecomércio-RS, Zildo De Marchi, admite que a previsão das principais entidades estaduais e nacionais do varejo projeta desempenho no mesmo nível ou menor em alguns segmentos, mas aposta ainda na melhoria nos próximos meses. “Se crescer 5% no ano, será bom”, projeta Marchi.
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), representando a direção no evento do Jornal do Comércio, Paulo Vanzetto Garcia, assinala que a preocupação do setor reside na perda de espaço no PIB. Na agropecuária, cujo desempenho estadual e nacional foi decisivo para o resultado do indicador no ano passado, o temor é que a menor riqueza produzida na área industrial esvazie o crescimento ao longo do tempo. O setor reclama do maior ingresso de importados e perda de competitividade das empresas, pela alta carga tributária e elevados custos logísticos. “A renda de commodities tem limite e não se sustenta ao longo do tempo”, alerta Garcia.
O diretor-presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes, descarta impacto de desaceleração chinesa, que influencia os negócios na bolsa de valores e gera menor fluxo de dólares. Segundo Nunes, o preço da commodity se mantém estável, e a desativação de plantas mais antigas abrem caminho à oferta do Brasil. Comandando o maior investimento no Estado, a ampliação da planta de Guaíba, com valor de R$ 5 bilhões, o diretor-presidente confirma a partida da nova capacidade (quase 2 milhões de toneladas anuais de celulose) para 3 de maio de 2015. Hoje, cerca de 4 mil trabalhadores atuam na construção e montagem.
O presidente do Banrisul, Túlio Zamin, esperava a confirmação do avanço do PIB, que está no plano para 2014. O banco aposta na demanda de crédito do setor agropecuário, que acaba impulsionando encomendas da indústria, amenizando o ambiente menos favorável. “Vamos ter uma segunda safra consecutiva muito boa, o que facilita saldar débitos”, lembra Zamin. Com fraco desempenho na contratação de crédito em 2013, o banco tenta recuperar o repasse de recursos ao setor empresarial.
Demanda acelerada em eletrodomésticos e bebidas surpreende dirigentes Do eletrodoméstico à bebida e até consórcios e tintas. Segmentos locais registram começo do ano acelerado. O presidente do conselho de administração das Lojas Colombo, Adelino Colombo, mostra mais ânimo do que a média do empresariado. “O ano começou muito bem, e em todos os segmentos de produtos”, atestou o varejista gaúcho, que projeta abrir em 2014, mais 20 lojas, elevando a rede a 270 pontos. O número para o Estado não é especificado. “O aquecimento das vendas é surpresa positiva”, rende-se Colombo. Para o empresário, a elevação da taxa de juros básica, que ocorre desde 2013, não afetou e nem afetará o custo financeiro a clientes. “Usamos capital próprio, não vamos repassar aos parcelamentos”, garante o empresário.
A indústria Fruki, de Lajeado, planeja expansão da produção no segundo semestre, e parte do impulso vem das vendas de água mineral, salienta o diretor-presidente da empresa, Nelson Eggers. O ramo, no qual a marca da Fruki – Água da Pedra – detém 26% do mercado no Estado, surfou com a maior demanda nas altas temperaturas. “De cada quatro litros vendidos, um é nosso”, triunfa o empresário de bebidas, que tem a terceira marca de guaraná, atrás das gigantes do setor. Eggers acredita em um maior aumento do mercado de água mineral, que ainda é pequeno no Brasil. Com capacidade que chegará a 420 milhões de litros anuais de refrigentes e água na fábrica em Lajeado, até o fim do ano, e com projeção de elevar em 15% a receita no ano, Eggers já começou estudos para montar uma nova unidade até 2016. “Mais de 50 prefeitos já me visitaram interessados no investimento. Não temos definição, mas será logo”, avisa o diretor-presidente da Fruki.
O aquecimento do mercado imobiliário turbina a projeção de alta no faturamento da Tintas Renner. O coordernador de marketing da PPG, que é detentora da marca, Ricardo Cappra, assinala que segmentos desde popular à maior renda de demanda da construção civil devem manter a aceleração, com crescimento acima da média da economia. Os ramos chamados de premium terão mais lançamentos em 2014.
A Racon, braço de consórcios do grupo Randon, planeja alcançar 110 pontos de venda em 2014, com atuação forte no mercado do Sul, segundo o gerente comercial e de marketing da empresa, Cleber Luis Sanguanini, que sinaliza para aumento de 20% no volume de crédito a ser contratado para aquisição programada de imóveis e veículos, além de tratores e implementos agrícolas. “O consórcio é competitivo frente a outras aplicações financeiras e garante poupança para esses bens”, explica Sanguanini.
Fonte: Jornal do Comércio – Acesso em 11/04/2014 – http://goo.gl/7g37qs